Essa semana está sendo uma correria danada e eu mal terei tempo de respirar.
Mandei um e-mail pro meu pai. Eu não ia aguentar esperar a chegada das férias pra voltar pra Fortaleza e falar todas aquelas coisas.
Também não tenho coragem de falar isso por telefone. Eu sou covarde, esqueceu?
Eu disse mais ou menos assim "Pai, eu estou cansado de viver uma vida que foi projetada por você.
Eu quero voltar pra Fortaleza, eu odeio morar longe de vocês. Me sinto um peixe fora d'água aqui.
Eu quero desistir da medicina. Tenho 21 anos e já desperdicei 3 anos da minha vida trabalhando com uma coisa que eu detesto só pra fazer você feliz. Meu sonho sempre foi fazer Arquitetura e só aceitei entrar nessa parada dura pra te fazer orgulhoso.
Eu quero que você saiba que eu não gosto tanto assim de ir pra igreja e que acho mais importante acreditar em Deus do que estar sentado em um banco com a bíblia aberta.
Eu também quero que você saiba que eu não gosto de meninas. Ou pelo menos não da forma como você imagina."
É um sentimento estranho esse. Chorei rios de lágrimas essa noite que passou, fiquei das 2h da madrugada até as 5 ponderando se deveria ou não enviar a mensagem, mas agora me sinto livre como se pela primeira vez em anos pudesse respirar ar livre. Parece que essa chuva da manhã veio enviada por Deus pra lavar a alma.
Ele não respondeu ainda. Nem me ligou. Acho que ainda nem leu. Mas eu sei que não vai aceitar. Eu sei que ele vai fazer o mesmo que fez da última vez. Eu sei o que está vindo por aí. Mas dessa vez vai ser do meu jeito. Os sonhos de Caio precisam ser mais importantes que os sonhos de Pai do Caio pelo menos uma vez.